domingo, 26 de agosto de 2012

Déficit de aprendizagem e notas ruins podem indicar problemas de saúde

19/11/2011 06h07- Atualizado em 19/11/2011 06h07

 Pais devem ficar sempre atentos e levar as crianças ao médico periodicamente

 
Rosamari Mello (Foto: Divulgação )
Rosamari Mello, psicóloga e integrante da ABD
(Foto: Divulgação )


Crianças que têm dificuldade para ler e escrever muitas vezes são taxadas de preguiçosas e sofrem duplamente, em casa e na escola. O que muitos pais e professores não sabem é que elas podem sofrer de dislexia, um transtorno neurofuncional que afeta a capacidade de decodificar informações.

“O cérebro do disléxico funciona de forma diferente, como se a mensagem demorasse mais para ser compreendida. A criança com dislexia não é deficiente, ela é diferente. Não existe remédio para o problema, só treino para que as informações sejam decodificadas mais rapidamente. Nós costumamos enfatizar que dislexia não é doença, é somente um distúrbio de leitura”, explica Rosemari Marquetti de Mello, psicóloga e membro da diretoria da Associação Brasileira de Dislexia (ABD).

De acordo com Rosemari, o ideal é realizar o diagnóstico o mais cedo possível, não só da dislexia, mas de outros problemas que podem afetar o aprendizado, como transtornos oculares. Assim, ameniza-se ou mesmo evita-se um comprometimento social e emocional do indivíduo ao longo da vida.

“Às vezes a criança não aprende porque não consegue enxergar direito ou ouvir o que o professor fala. Por isso, os pais devem ficar atentos a qualquer sinal que possa prejudicar o aprendizado. Se a criança não tem o desempenho escolar adequado para a idade, é importante que ela seja avaliada por uma equipe multidisciplinar, composta por oftalmologista, fonoaudiólogo, otorrinolaringologista, psicólogo/neuropsicólogo, psicopedagogo... Mesmo com a correria da vida moderna, os pais ou os responsáveis pelas crianças não devem descuidar da saúde delas”, ressalta.

No que diz respeito à dislexia, apesar de não ter cura, a boa notícia é que portadores do transtorno podem levar uma vida normal, caso tenham o acompanhamento adequado, o que infelizmente nem sempre acontece.

“Os professores não estão preparados para lidar com crianças com dislexia. Na ABD nós oferecemos cursos para os profissionais interessados em aprender como ensinar para alunos disléxicos. Pelo menos, notamos que existem alguns professores engajados. Se eles notarem alguma diferença no desempenho do aluno, devem encaminhá-lo para avaliação de um grupo multidisciplinar de profissionais. Sendo constatada a dislexia, o professor deve dar mais atenção para a criança, colocá-la mais para frente na sala de aula e avaliá-la de forma diferente, com outros trabalhos, não só provas escritas. O sucesso da aprendizagem do aluno com dislexia depende da ação conjunta da família, escola e intervenção com profissional especializado”, ressalta a psicóloga.

Segundo Rosamari, já existem instituições que colocam pessoas para ler as provas para os alunos com dislexia, como a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Presbiteriana Mackenzie e a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). “A iniciativa é importante, porque ajuda a manter o aluno na escola. Existe um aspecto social forte no que diz respeito à dislexia. Quando a criança não é aceita na escola, ela vai para a rua e fica mais vulnerável, podendo até cair na marginalidade. Muitas pessoas com dislexia têm uma inteligência acima da média, vide cientistas como Einstein e Thomas Edison. Sem orientação, a inteligência pode ser usada de forma negativa”, diz a especialista.

A veterinária Heloisa Pappalardo, mãe de Bernardo, 12 anos, até hoje sente remorsos quando lembra como brigava com o menino porque as notas dele na escola eram ruins. Depois de muito choro e castigos, a vida da família mudou quando Bernardo recebeu o diagnóstico de dislexia, aos 9 anos.

“Nós já percebíamos que Bernardo era diferente dos outros alunos; ele não entendia o que lia. A gota d'água foi quando pediram para ele fazer uma redação sobre a festa de aniversário da cidade de São Paulo, e ele escreveu sobre sua própria festa de aniversário. Quando descobrimos que era dislexia, foi um alívio para todos. O colégio nos apoia, além da prova escrita, ele tem prova oral. É impressionante, porque ele entende toda a prova quando alguém lê. Os colegas de turma tentam ajudar, todo mundo sabe que ele tem dificuldade, e Bernardo hoje não tem vergonha de falar sobre a dislexia. Participo de reuniões de pais na ABD e vemos que nosso filho tem sorte, pois é comum que alunos com dislexia sejam discriminados. Procuro me informar cada dia mais para poder ajudá-lo”, conta Heloisa.

De acordo com Rosamari, a ABD foi criada há 27 anos por Jorge Simeira Jocob, que tinha um filho com dislexia. Após recorrer à British Dyslexia Association, na Inglaterra, ele finalmente encontrou as respostas para as dificuldades que a criança vinha apresentando na escola. De volta ao Brasil, sob orientação da entidade inglesa, fundou a ABD, inicialmente apenas um ponto de estudos, encontros e trocas de informações. Em 1988, iniciavam-se as atividades do Centro de Avaliação e Encaminhamento (CAE), atendendo aos pedidos de pais e profissionais em busca de respostas e orientações mais concretas.

“Hoje nossa equipe conta com 20 profissionais, que fazem diagnósticos e ministram cursos. Como não temos verba, cobramos pelos serviços, mas 30% das pessoas que nos procuram recebem o diagnóstico de graça. Fazemos cerca de 90 diagnósticos por mês e existe uma fila de espera de seis meses para o atendimento”, completa.

Saiba mais sobre a ABD no site: http://www.dislexia.org.br/
Fonte:http://redeglobo.globo.com/globoeducacao/noticia/2011/11/deficit-de-aprendizagem-e-notas-ruins-podem-indicar-problemas-de-saude.html

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