quinta-feira, 22 de novembro de 2012

TDAH: Saiba identificar se seu filho sofre dessa doença

Inquietação, questionamento excessivo, dificuldade na escola e falta de paciência podem indicar que a criança está sofrendo
Marsílea Gombata, do R7
 
 
Inquietação, questionamento excessivo, dificuldade de prestar atenção na aula, distrair-se facilmente e ficar disperso quando o professor explica a matéria. Pouca paciência para estudar, capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo e dificuldade de terminá-las. São características comuns, mas que podem esconder uma criança infeliz, com problemas para lidar com as próprias tarefas e dona de um diagnóstico cada vez mais comum: o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade). Ao lado da conhecida dislexia (dificuldade na leitura e escrita), o TDAH é um dos principais transtornos ligados à aprendizagem. Presente em cerca de 5% da população, a doença é baseada em três itens principais: desatenção, hiperatividade e impulsividade, e costuma ser mais evidente em meninos do que meninas, alerta a psicóloga Cleide Partel:
— Os meninos enquanto crianças são mais percebidos, já que as meninas são as mais quietinhas e podem passar despercebidas pelos professores. Na idade adulta, no entanto, a proporção é de um homem diagnosticado para cada mulher.
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A dificuldade, conta a especialista, surge de atividades demandadas pela escola. Quando a criança está lendo um livro, por exemplo, consegue chegar ao final da página, mas não lembra o que leu e sempre tem de voltar ao início. Além disso, como não suporta tédio ou tarefas burocráticas e sem criatividade, quem sofre de TDAH foca a atenção somente quando gosta do assunto ou quando é desafiado. Assim, para as matérias que não tem tanto interesse terá de fazer um esforço muito maior do que os outros.
Além dos problemas na vida escolar, a vida profissional também pode acabar prejudicada, explica Cleide:
— É muito comum que seja uma pessoa extremamente impaciente e queira fazer tudo do jeito dela, no tempo dela. Então, costumam não esperar sua vez e querem impor aos outros suas próprias regras. Além disso, mal conseguem esperar o interlocutor terminar de falar e costumam agir por impulsividade, comendo e bebendo muito.
Para a pediatra Maria Aparecida Moyses, que coordena o Laboratório de Estudos sobre Aprendizagem, Desenvolvimento e Direitos do Centro de Investigações em Pediatria da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), mais do que um diagnóstico, essas características mostram que a criança vem enfrentando sérios problemas:
— São manifestações de que algo não vai bem com essa criança e que podem esconder um problema real que não está sendo diagnosticado, como a dislexia.
TDAH X dislexia
O transtorno, no entanto, não deve ser confundido com a dislexia. Enquanto o TDAH se refere ao comportamento e tarefas executivas, a dislexia tem relação com a capacidade de leitura e escrita que interfere diretamente na aprendizagem. Normalmente, quem sofre com a doença, troca ou omite letras e números com frequência. Assim, explica o pediatra Dr. Saul Cypel, membro do Departamento Científico de Pediatria do Comportamento e Desenvolvimento da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), a doença costuma ser diagnosticada quando a criança começa a aprender a ler e escrever:
— A dislexia é um processo de dificuldade severa do aprendizado da leitura, que só pode ser verificada com pelo menos dois anos de alfabetização.
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Pais que se veem diante de um filho diagnosticado com dislexia ou TDAH e que está tendo dificuldades para acompanhar o ritmo dos colegas podem se ver às voltas com a seguinte dúvida: é preciso uma escola especial para meu filho? Especialistas, no entanto, são categóricos ao dizer que a resposta é “não”. Eles ressaltam que a maior parte das escolas tem condições de trabalhar em conjunto com os pais e o médico que trata da criança para encontrar soluções às dificuldades cotidianas.
Sem contar que uma escola especial, ressalta Cleide, pode trazer estigmas e fazer com que a criança comece a ser vista como diferente.
Identificação
Diferentemente de muitas doenças neurológicas, o TDAH conta apenas com um questionário de 18 perguntas recomendado pela Associação Americana de Psiquiatria para ser diagnosticado. Para saber se a criança tem TDAH é preciso que os pais fiquem atentos aos seguintes pontos: se seu filho está atrapalhando a aula, se vai mal na escola, se sempre desafia ou enfrenta mais velhos e autoridades, se é uma criança difícil de lidar. Nos adultos, pode haver dificuldade de concentração em palestras, aulas ou leitura, desatenção, relutância em iniciar tarefas que exigem longo esforço mental, problemas com organização, planejamento ou mesmo memória a curto prazo (marcada pela perda ou esquecimento de objetos, nomes, prazos, datas). Além disso, pode vir associado a outras doenças como depressão, transtorno de ansiedade ou distúrbio alimentar.
Uma vez confirmada a existência da doença, no entanto, é importante recorrer a um tratamento multidisciplinar, assessorado por médicos, psicoterapia, orientação aos pais e professores. Quando há necessidade do uso de medicamento — em geral o metilfenidato, comercializado sob o nome de Ritalina —, este deve ser prescrito com bastante critério. O medicamento, alerta Maria Aparecida, é cada vez mais vendido no Brasil, que é atualmente é o segundo maior consumidor do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos:
— A ritalina age como a anfetamina e a cocaína, aumentando a dopamina (neurotransmissor do prazer) nas sinapses e diminuindo a sensibilidade.
Além disso, quando mal administrado, o remédio pode causar alucinação, depressão, convulsão, insônia, confusão mental, levar à perda de peso e atrapalhar o crescimento. A própria bula do remédio indica que ele não deve ser utilizado em crianças menores de seis anos.
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O pediatra Dr. Cypel ressalta que o medicamento é uma opção muito criteriosa e eventual, mas que não isenta os pais de rever o processo de desenvolvimento e educação do filho.
— Os pais têm de entender que não podem fazer todos os desejos da criança. Além disso, precisam estimulá-las a conviver com frustrações e mostrar que elas têm tarefas, assim como rotina e horários.
Mas atenção: tentar impor uma lista de cobranças à criança pode apenas agravar a doença. Os pais, de acordo com Cleide, devem aprender a não criticar sempre a criança por seus erros e passar a ressaltar com mais frequência os acertos.
— Do contrário, a criança perceberá que recebe muita atenção dos pais quando faz coisas inadequadas, e isso fará seu comportamento ficar pior.
Fonte:http://noticias.r7.com/saude/tdah-saiba-identificar-se-seu-filho-sofre-dessa-doenca-23102012

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

DESCOBRINDO TALENTOS




"O meu filho não obedece". "Esta menina não pára quieta". "Ele não ouve o que eu falo, está sempre voando". "A professora disse que ele não sabe matemática". "Ela não faz nada bem.

E a criança é levada ao psicólogo. E os pais querem saber como resolver o problema do filho, como fazer com que a filha melhore, qual é a mágica que mudará a forma de seu filho ou filha se comportar.

Não há mágica. O comportamento de cada um é influenciado por uma série de fatores genéticos, sociais, ambientais, para que aconteça de uma forma e não de outra. Mas, em se tratando de crianças, uma das perguntas fundamentais a serem feitas para os pais é: o que o seu filho faz bem? Qual o seu talento?

Quando uma família traz uma criança para a terapia, ela normalmente só consegue enxergar problemas pela frente. É por isso que a criança está lá. Neste momento, os pais tem dificuldades de perceber que aquela criança é mais do que o seu comportamento-problema. Ela é uma pessoa que apresenta diversos comportamentos, alguns problemáticos e outros saudáveis e é possível que a ênfase que a família está dando para alguns comportamentos seja responsável por eles existirem mais que outros.

Não é simples mudar. Mas, há formas de se amenizar os problemas ou, pelo menos, há caminhos para se começar a organizar uma nova forma da criança se comportar. E um destes caminhos é, com certeza, a busca de talentos.

Todo mundo, absolutamente todo mundo, pode aprender a fazer algo e fazer este algo muito bem. É uma questão de predisposições genéticas associadas ao exercício – prática – daquela atividade. Fazer algo bem traz reconhecimento, prazer e motiva a pessoa a fazer aquilo novamente. Tendemos a repetir o que nos faz bem.

Por isso, para se começar a cuidar de um problema de comportamento é importante se olhar para outros aspectos da vida da criança. Perceber como aquela menina que é péssima em geografia pode ser excelente imitadora e incentivá-la em atividades que exijam esta habilidade pode ser muito melhor do que colocar a criança na professora particular alegando quantas dificuldades ela tem na escola. Identificar que um garoto não é bom de esportes, mas é excelente em atividades artísticas pode ajudar os pais a mudarem o olhar, levando-os a incentivar características, comportamentos de seu filho, que poderão torná-lo muito mais feliz do que fazendo o que todo mundo faz ou o que a maioria das pessoas faz.

Não se trata de ignorar as dificuldades da criança e nem de não se arranjar formas diretas de ajudá-la a superá-las. Mas, quando uma criança encontra algo que faz bem ou algo que lhe motiva, ela tem condições de aprender a desenvolver novas habilidades - muitas delas necessárias também para a execução das atividades em que apresentava um desempenho ruim . Além disso, pode desenvolver comportamentos que lhe darão confiança de que é capaz, de que pode ter sucesso em algo.

A ênfase em competências é uma forma muito mais eficiente para ajudar uma criança que a valorização de erros ou fracassos. Perceber-se talentoso em algo pode ser uma das mágicas para tornar a vida de uma criança mais feliz, motivando-a a aprender e a seguir em frente na superação de novos desafios e obstáculos.


Dra. Lygia T. Dorigon

(Psicóloga, CRP 06/84744)

É psicóloga, analista do comportamento, graduada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Cursou especialização em clínica analítico-comportamental no Núcleo Paradigma. É mestre em Psicologia Experimental: análise do comportamento, também pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com trabalho na área de histórias e fundamentos epistemológicos e conceituais da análise do comportamento.
Tem experiência profissional no atendimento de crianças, adolescentes e adultos. Atua como supervisora de equipes de intervenção e de terapeutas. É psicóloga da clínica Medicina do Comportamento, sob a direção da Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva.


E-mail: saopaulo@medicinadocomportamento.com.br
Fonte:http://www.medicinadocomportamento.com.br/textos_temaslivres45.php