sábado, 28 de abril de 2012

Entrevista Ana Beatriz Barbosa Silva"Eu me achava uma burra"


Entrevista Ana Beatriz Barbosa Silva
"Eu me achava uma burra"
A psiquiatra conta como sofreu com o déficit de atenção
na infância e como aprendeu a conviver com o transtorno
que atinge 6% da população em idade escolar
Silvia Rogar

Oscar Cabral


"No início da adolescência, bateu uma vontade enorme de mudar. Eu decidi ficar retraída, quieta, para não errar"

A psiquiatra carioca Ana Beatriz Barbosa Silva, 43 anos, especializou-se em traduzir para uma linguagem acessível o universo misterioso dos transtornos mentais. Seu último livro, Mentes Perigosas, apresentou as muitas faces dos psicopatas e há 44 semanas faz parte da lista dos mais vendidos de VEJA. Ela já havia feito uma primeira incursão vitoriosa. Seu Mentes Inquietas, sobre o transtorno do déficit de atenção (TDA), vendeu 200 000 cópias e está sendo relançado. Nesta entrevista, Ana Beatriz fala de sua experiência, da importância do diagnóstico precoce e afirma que, embora não tenha cura, o transtorno permite uma vida normal e criativa.

Como a senhora descobriu que tem o transtorno do déficit de atenção?
Eu já estava no 3º ano da faculdade de medicina. Tinha 19 anos. Fui a um seminário em Chicago sobre depressão. Consegui errar tudo: cheguei um dia e uma hora atrasada para a primeira aula. Como não apareci, minha inscrição foi cancelada. A atendente da faculdade viu meu desespero e disse que eu poderia me transferir para outro curso, com início naquele dia. O professor era John Ratey, papa do déficit de atenção. Ele começou a detalhar o transtorno e pensei que estivesse falando sobre mim. Chegou a ser incômodo. Quando a aula acabou, fui atrás dele conversar sobre meu comportamento desde a infância. No dia seguinte fiz um teste que revelou que eu tinha TDA em grau grave. Ele então me disse: "Sobreviver, você já sobreviveu. Sabe se virar, frequenta uma boa faculdade. Mas você mata um leão por dia". Comecei então o tratamento.
Foi um divisor de águas. Senti-me como um míope que põe o primeiro par de óculos e percebe que o mundo é cheio de detalhes. Usei a medicação por cinco anos consecutivos. Hoje, quando escrevo um livro, volto a tomá-la no último mês. É a hora em que junto todas as informações e preciso ter mais senso crítico.

O que provoca o TDA?
A pessoa que tem o transtorno nasce com uma alteração no funcionamento do lobo frontal. Essa seção do cérebro é um maestro do comportamento humano, uma área em que se cruzam sistemas neurais ligados à razão. Entre outras ações, regula a velocidade e a quantidade de pensamentos. No TDA, esse filtro funciona com eficiência menor. O resultado é a hiperatividade mental e, consequentemente, a perda de foco, de objetividade. Quem nasce com TDA não tem problema de inteligência, mas de administrar o tempo, fixar a atenção, dar continuidade ao que inicia. O transtorno é muito mais comum do que se imaginava. Segundo a Associação de Psiquiatria Americana, 6% da população em idade escolar tem esse padrão de funcionamento mental nos Estados Unidos. No Brasil, as pesquisas apontam uma média próxima a essa.

O que provoca essa alteração do funcionamento do cérebro?
É um transtorno químico, causado pela baixa de dois neurotrasmissores: a dopamina e a noradrenalina. Essa alteração diminui a ação filtrante do lobo frontal. A genética já mostrou ter papel importante, mas fatores externos acabam interferindo na evolução do transtorno. Se não é cercada por uma organização mínima, a pessoa pode ter sérios prejuízos em sua qualidade de vida.

"Quem tem TDA presta muita atenção naquilo que desperta seu real interesse. Por isso, é injusto falar de déficit de atenção. O que existe é uma atenção instável"

Como o transtorno interferiu em sua trajetória pessoal?
Sempre achei que havia algo errado comigo. Na escola, tinha horror a ditado. Meu coração disparava: sabia que precisava prestar atenção ao que a professora dizia e, simultaneamente, observar se não estava cometendo erros ao escrever. Nessas horas, eu me sentia a criança mais burra da sala. Fora do colégio, também sofria. Uma vez meu pai, que é professor, corrigiu tanto meu diário que botei fogo nas páginas depois. Vivia com as pernas roxas de tanto cair e bater nos móveis. Meu armário era uma bagunça absurda. Tenho uma irmã cinco anos mais velha, centrada, organizada. Durante muito tempo, dei a ela parte da minha mesada para que arrumasse meu armário. Todas as vezes que minha mãe reclamava comigo, eu concordava, entendia que ela tinha razão. Mas eu não sabia como tudo isso acontecia. No início da adolescência, bateu uma vontade enorme de mudar. Eu era uma criança falante e me fechei. Fiquei retraída, quietinha, para não errar. Vivia no meu quarto, lendo. Isso foi dos 12 aos 16 anos. Na infância me chamavam de pinga-fogo, porque eu não parava. Na adolescência, quando me tranquei, virei Bia Sid (de sideral). Às vezes, achava que era burra. Por outro lado, sabia que tinha conhecimento e imaginação. Acabava o dia com dor de cabeça de tanto pensar. Era uma angústia.

Mas a senhora hoje é uma psiquiatra bem-sucedida. Como conseguiu isso?
O diagnóstico foi libertador. Passei a me observar. Com a medicação, comecei a fazer mais rápido o que antes demandava muito esforço. Foquei na psiquiatria. No meu trabalho, nada me escapa hoje. Tenho um filme na cabeça sobre cada paciente. Quem tem TDA presta uma atenção acima da média naquilo que desperta seu interesse verdadeiro. É o que a gente chama de hiperfoco. Por isso, acho injusto falar de déficit de atenção. O que existe é uma atenção instável.
O menino com TDA pode sofrer na escola, mas desenhar muito bem ou tocar piano de ouvido, se essa for a sua paixão. Por isso, é fundamental que os pais descubram os talentos do filho e o estimulem a fazer aquilo de que realmente gosta. Para quem tem TDA, isso funciona como remédio.

Como sua família enfrentou o problema?
Minha mãe creditava meu comportamento a falhas do método pelo qual fui alfabetizada. Meu pai achava que era preguiça. Mas eles eram compreensivos, porque sabiam que eu não fazia nada de propósito e era honesta, sincera, assumia os erros. Voei de bicicleta no carro do vizinho e meu pai pagou o conserto sem reclamar. Quando eles buscaram um diagnóstico para meu comportamento, os médicos disseram que eu tinha uma disritmia e me passaram um remédio. Devido à sonolência que causou, parei logo de tomar essa medicação. Ainda bem.

Por natureza, as crianças costumam ser agitadas e inquietas. Quando os pais devem desconfiar que o filho sofre do transtorno?
Na infância, desatenção e impulsividade são normais. Mas, em geral, estão relacionadas a algum motivo específico: porque a criança dormiu mal, está preocupada com alguma coisa, apaixonou-se pela primeira vez. O que acontece é que uma criança com TDA tem esse comportamento de maneira constante e mais intensa. Ela já nasce com o cérebro funcionando dessa maneira e, antes dos 7 anos, é possível perceber isso. Na infância, existe uma profusão de sintomas – e não são notas baixas. O lençol não para na cama porque a criança se mexe demais durante a noite. Também pode falar dormindo. Os professores mandam recados dizendo que aquele aluno é extremamente inteligente, mas isso não se traduz nas avaliações. A criança também é excluída das brincadeiras na escola, porque tem dificuldade de esperar a vez nos jogos em grupo e manter a atenção nas tarefas. Olhar a agenda e os cadernos também ajuda muito: eles refletem a organização do pensamento e como a criança anota as observações que professores fazem durante as aulas. A condição fundamental para o diagnóstico de TDA é a hiperatividade mental. Ninguém adquire TDA ao longo da vida. Quem tem o transtorno já nasceu com esse tipo de funcionamento cerebral. É o histórico que leva ao diagnóstico preciso.

"Quando tive o diagnóstico e comecei o tratamento, eu me senti como um míope que põe o primeiro par de óculos e percebe que o mundo é cheio de detalhes"

Como foi sua vida escolar?
Nunca repeti ano. Conseguia passar nas provas finais ou na recuperação. Nessa hora, meus pais assumiam uma função, digamos, mais executiva. Eles me ajudavam a me organizar, e aí eu estudava como louca. Quando existe planejamento, vai tudo bem com a pessoa que tem TDA.

O que a senhora aconselha a quem descobre que o filho tem TDA?
A primeira coisa é ver o grau de sofrimento dessa criança, o nível de desconforto. É preciso ir à escola conversar com professores, ouvir a babá. A partir daí, dar oportunidade à própria criança para que ajude no tratamento, participe. Tenho um paciente que enlouquecia a família. Depois de usar medicação por dois anos e ter uma melhora estupenda, ele disse: "Já tenho noção de como é meu cérebro funcionando da maneira que tem de ser e queria parar de tomar o remédio, tentar do meu jeitinho". Ele ganhou uma percepção de seu comportamento. Outra coisa que os pais devem entender é que ser justo em questão educacional não é tratar os filhos todos da mesma maneira. Eles têm de ver o que cada um precisa. No caso do TDA, é fundamental dar ênfase à disciplina. Inclusive com a mesada. Como ele tende a gastar tudo de uma vez, o dinheiro tem de ser liberado aos poucos, para criar um limite e cumpri-lo. Com meus pacientes, por exemplo, costumo assinar um contrato toda vez que quero alguma coisa. Sempre funciona.

A senhora conta a seus pacientes no consultório que tem TDA?
Sim, e principalmente as crianças ficam muito aliviadas. Outro dia atendi um paciente que batia a cabeça na parede. A mãe pensou que o filho estivesse louco. E eu disse a ele: "É para tentar parar o excesso de pensamento, né? A cabeça pesa mesmo, mas não é assim que vai melhorar". Ele ficou impressionado porque eu entendia exatamente o que ele estava sentindo. No livro, publiquei experiências minhas com nomes trocados. Como as da estudante de fonoaudiologia que achava que tinha alguma falha de caráter porque se distraía nas aulas, pegava cadernos emprestados com amigas, tirava notas boas e se achava uma fraude.

Quais são as tendências mais modernas no tratamento do transtorno?
Antes, só existia o metilfenidato (a Ritalina). Mas 15% dos pacientes não respondem bem a ele. É uma substância que surte efeito quando a desorganização e a falta de foco são os fatores que mais atrapalham a vida. Ao longo desta década, a bupropiona, substância usada no tratamento para parar de fumar, mostrou-se muito eficiente também para TDA. A atomoxetina, um tipo de antidepressivo, também passou a ser usada – principalmente nos casos em que depressão e ansiedade se manifestam junto. Costumo dizer que a melhor medicação é a eficaz com a menor dose. Mesmo no tratamento de adultos, começo com dose de criança. E avalio o tratamento complementar necessário. A terapia cognitivo-comportamental tem-se mostrado muito eficaz.

Existe prescrição exagerada de medicamentos hoje?
Sim. Não se deve prescrever remédio de TDA em um momento de desatenção ou para aumentar a concentração no ano de vestibular, por exemplo. O excesso de informação pode levar o cérebro à exaustão, e a pessoa fica sujeita a distrações, falhas de memória. Mas isso é fruto de uma sobrecarga circunstancial. Quando acaba, os sintomas desaparecem. O que acontece é que, por desinformação, alguns pais solicitam a medicação antes de uma investigação cuidadosa sobre o funcionamento mental do filho. Em quem não tem TDA, o remédio cria um efeito falso, dá apenas vigor numa situação de cansaço extremo.

TDA tem cura?
Não tem cura, mas há grandes chances de um final feliz. No momento em que você entende sua engrenagem, passa a dominá-la em vez de ser dominado por ela. Aí pode até levar vantagens. O excesso de pensamento – que causa exaustão, desorganização e esquecimento – também traz ideias. Existem ideias boas e más. O grande aliado de quem sofre de TDA é um caderninho. Em qualquer lugar, eu anoto pensamentos que já deram origem a capítulos de livros. Mesmo para ideias sem sentido, é vital ter organização. Dali pode sair algo realmente inovador.FONTE.http://veja.abril.com.br/300909/eu-achava-burra-p-019.shtml

Projeto prevê tratamento de dislexia e TDAH para estudantes

28/04/2010 11:11





Proposta também prevê oferta de cursos específicos para professores sobre o diagnóstico e o tratamento dessas disfunções.


Tramita na Câmara o Projeto de Lei 7081/10, do senador Gerson Camata (PMDB-ES), que obriga o poder público a manter programa de diagnóstico e tratamento de dislexia e de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) para estudantes do ensino básico.

Conforme o projeto, as escolas devem assegurar às crianças com esses distúrbios o acesso aos recursos didáticos adequados ao desenvolvimento da aprendizagem. A proposta prevê também que os sistemas de ensino deverão oferecer aos professores cursos específicos sobre o diagnóstico e o tratamento dessas disfunções.

O diagnóstico e o tratamento devem ocorrer por meio de equipe multidisciplinar, da qual participarão, entre outros, educadores, psicólogos, psicopedagogos, médicos e fonoaudiólogos.

Camata afirma que a criança com dislexia, devido às suas dificuldades de acompanhar o processo de aprendizagem dos demais alunos, tende a sentir-se frustrada e, pelo menos uma parte delas, pode desenvolver problemas emocionais e comportamentos antissociais, como excessiva agressividade ou retraimento. Daí a importância do diagnóstico ("muitas vezes difícil e demorado") e do tratamento.

Tramitação
O projeto, que tramita em regime de prioridade e em caráter conclusivo, será analisado pelas comissões de Seguridade Social e Família; de Educação e Cultura; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.


Reportagem: Luiz Claudio Pinheiro
Edição: Murilo Souza

A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara de Notícias'

Fonte:http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA/147140-PROJETO-PREVE-TRATAMENTO-DE-DISLEXIA-E-TDAH-PARA-ESTUDANTES.html

terça-feira, 24 de abril de 2012

Estudo liga falha genética no cérebro a déficit de atenção







O TDAH é uma desordem psiquiátrica comum, mas complexa, com sintomas como desatenção, comportamento impulsivo e hiperatividade (Polka Dot/Thinkstock)



Um estudo americano relaciona a descoberta de alterações em genes específicos envolvidos em importantes vias de sinalização do cérebro ao transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Publicado na versão on-line do periódico Nature Genetics, o levantamento abre portas para o desenvolvimento de drogas que possam agir especificamente nessas vias -- oferecendo, assim, novas opções de tratamento para o problema.


O TDAH é uma desordem psiquiátrica comum, mas complexa, com ocorrência estimada em 7% das crianças em idade escolar e em uma porcentagem pequena nos adultos. Existem diferentes subtipos de TDAH, com sintomas como desatenção, comportamento impulsivo e hiperatividade. Suas causas ainda são desconhecidas, mas o transtorno tende a permanecer na família e, acredita-se, que seja influenciado pela interação de diversos genes. O tratamento medicamentoso nem sempre é eficaz, particularmente em casos mais graves.


Variação genética - “Ao menos 10% dos pacientes com TDAH da nossa amostra têm essa variação genética”, diz Hakon Hakonarson, coordenador do estudo e diretor do Centro de Genética Aplicada do Hospital da Criança da Filadélfia. “Os genes envolvidos afetam o sistema de neurotransmissores do cérebro implicados no TDAH. Agora temos uma explicação genética para essa ligação, que se aplica a um subconjunto de crianças com a desordem.”


A equipe de pesquisadores fez uma análise do genoma inteiro de 1.000 crianças com TDAH recrutadas no Hospital da Criança da Filadélfia, comparadas com 4.100 crianças sem a desordem. Os pesquisadores procuraram por variações no número de cópia (CNVs), que são deleções ou duplicações da sequência de DNA. Em seguida, eles avaliaram os resultados iniciais em vários grupos independentes, que incluíam perto de 2.500 casos com TDAH e 9.200 sujeitos de controle.


Entre esses grupos, os pesquisadores identificaram quatro genes com um número alto significativo de CNVs em crianças com TDAH. Todos os genes eram membros da família de genes receptores de glutamato, com o resultado mais forte no gene GMR5. O glutamato é um neurotransmissor, uma proteína que transmite sinais entre neurônios no cérebro. “Membros da família de genes GMR, juntamente com os genes com que interagem, afetam a transmissão nervosa, a formação de neurônios e as interconexões no cérebro. Então, o fato de que crianças com TDAH são mais suscetíveis a terem alterações nesses genes reforçam as evidências de que o GMR é importante no TDAH”, diz Hakonarson.


NÃO PERCA! A palestra sobre TDAH com Célia Regina Carvalho Machado da Costa (Graduada em Psicologia e Fonoaudiologia e Especialização em Neuropsicologia e Educação Especial) na I Jornada sobre Neuroeducação.


Fonte: http://creativeideias.blogspot.com.br/search?updated-min=2012-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2013-01-01T00:00:00-08:00&max-results=50

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Pesquisadores promovem debate científico sobre dislexia e TDAH na FCM










qui, 12/04/2012 - 12:42




Pesquisadores nacionais e internacionais se reúnem no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp nesta quinta-feria (12), amanhã e sábado no auditório da PUC-Campinas, campus 1, para discutir as evidências científicas da dislexia e do TDAH. As queixas de dificuldades de aprendizagem são comuns na infância e adolescência e motivam grande parte dos encaminhamentos por professores aos profissionais da saúde, com objetivo de avaliação, diagnóstico e intervenção. Em 1968, a World Federation of Neurology utilizou o termo dislexia do desenvolvimento para definir um transtorno manifesto por dificuldades na aprendizagem da leitura, apesar da instrução convencional, inteligência adequada e oportunidade sociocultural.

As principais características observadas nestas crianças são: dificuldades na velocidade de nomeação de material verbal e memória fonológica de trabalho; dificuldades em provas de consciência fonológica (rima, segmentação e transposição fonêmicas); nível de leitura abaixo do esperado para idade e nível de escolaridade; escrita com trocas fonológicas e ortográficas; bom desempenho em raciocínio aritmético; nível intelectual na média ou acima da média; déficits neuropsicológicos em funções perceptuais, memória, atenção sustentada visual e funções executivas.

O primeiro relato de TDAH ocorreu no século XIX, descrito pelo médico inglês Still. O TDAH manifesta-se por alterações na atenção e no comportamento (hiperatividade e impulsividade) que não são explicadas por outros transtornos ou problemas psicossociais em crianças. De 2006 a 2009, foram encaminhadas por ano 2.300 crianças com queixas de dificuldades de aprendizagem ao laboratório de Distúrbios de Aprendizagem e Transtornos da Atenção (Disapre) da FCM da Unicamp. Desse total, apenas 1,7% foi diagnosticada com os quadros de dislexia do desenvolvimento ou transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

De acordo com Sylvia Maria Ciasca, coordenadora do Disapre da FCM, há um grande número de crianças com diagnósticos falso-positivos a partir de questionários respondidos por pais e/ou professores. Segundo a neuropsicóloga, o diagnóstico deve ser feito por uma equipe interdisciplinar. Somente depois de muitas avaliações é que a equipe do Disapre chega à conclusão sobre o melhor procedimento interventivo, geralmente psicoterapêutico, medicamentoso e apoio educacional.

“O objetivo deste fórum é promover um debate científico sobre a disleixa e TDAH e sair daqui com novas ideias e fontes de pesquisa para melhorar a qualidade de vida de crianças com esses diagnósticos”, disse Sylvia, coordenadora do fórum sobre a evidências científicas em dislexia e TDAH, durante a abertura do evento na manhã desta quinta-feira.

Para o diretor da FCM, Mario José Abdalla Saad, a área da saúde é uma mescla de ciência exatas e humanas. As duas devem estar agregadas para se ter um bom atendimento à população. Porém, o que a humanidade conseguiu nos últimos 300 anos foi graças ao método científico. O método científico permitiu triplicar o tempo de vida das pessoas. A Universidade,tradicionalmente, forma pessoas por meio do método científico.

“Cabe a universidade respeitar opiniões individuais. Entretanto, existe a divulgação do método científico e o debate científico. A ciência é o caminho para o progresso. Ela tem maneiras de autocorreção. O método científico permite buscar a verdade e trabalhar com ética. caminho para o progresso, porque ela tem métodos de correção. O debate científico sobre disleixa e TDAH é muito importante para o progresso da sociedade e a compreenção das famílias e dos profissionais da saúde”, disse Saad.

O evento é organizado pelo Disapre da FCM da Unicamp com o apoio e participação de representantes das Associações Brasileiras de Psiquiatria, de Dislexia, de Neurologia e Psiquiatria Infantil, de Psicopedagogia, do Déficit de Atenção e Sociedades Brasileiras de Fonoaudiologia, de Pediatria, de Neuropsicologia e de Neurologia Infantil.

Texto: Edimilson Montalti – ARP-FCM

Fotos: Vinicius D´Ottaviano

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Faculdade de Ciências Médicas - Universidade Estadual de Campinas - Rua: Tessália Vieira de Camargo, 126
Cidade Universitária "Zeferino Vaz" - Campinas - SP - Brasil
Fonte:http://www.fcm.unicamp.br/fcm/fcm-hoje/noticias/2012/pesquisadores-promovem-debate-cientifico-sobre-dislexia-e-tdah-na-fcm


segunda-feira, 9 de abril de 2012

Congresso discute formas de enfrentar o transtorno



Utilidade Pública | 13/02/2012


O Senado aprovou ano passado projeto de lei (PLS 7.081/10) do ex-senador Gerson Camata que institui na educação básica o programa de diagnóstico e tratamento do TDAH e da dislexia. Psiquiatras em geral apoiam a ideia, mas o deputado Nazareno Fonteles (PT-PI) apresentou voto em separado na Comissão de Educação e Cultura da Câmara alertando, com apoio de 45 entidades, para a “medicalização da educação e da sociedade”. O projeto ainda precisa passar em outras duas comissões da Câmara. Martinha, do MEC, acrescenta que o programa Saúde na Escola já desenvolve ação compartilhada entre MEC e Ministério da Saúde.

Há também projeto de lei da Câmara (PLC 118/11), tramitando no Senado, propondo tornar obrigatório exame anual de aptidão física e mental para condutores com déficit de atenção. O texto original falava especificamente em motociclistas com TDAH. A ideia é vista com ressalvas por Paulo Mattos.

— Por que então não exigir avaliação em neurocirurgião, piloto de avião, jornalista ou qualquer outra atividade que exija atenção?

Além disso, a Câmara aprovou o Requerimento de Indicação 1.154/11, do deputado Dr. Aluízio (PV-RJ), que sugere ao ministro da Saúde a criação do Programa Nacional do TDAH. Segundo Surjus, do ministério, o requerimento ainda não chegou porque segue antes para a Casa Civil, que decide se vai encaminhar ou não:

— De qualquer forma, a Política Nacional de Saúde Mental já contempla isso.

O presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo, discorda.

— O governo não tem programa específico para TDAH. Tira o problema da saúde para encará-lo como apenas social.



Fonte :http://www.jornaloreporter.com.br/post/714/utilidade-publica/congresso-discute-formas-de-enfrentar-o-transtorno

Posse ganha programa de apoio a alunos com dislexia



PUBLICADO EM 30/03/2012 | 05h29

De Santo Antonio de Posse



O Projeto de Lei nº 011/2012 que autoriza o Poder Executivo a instituir o “Programa de Apoio ao Aluno Portador de Distúrbios Específicos de Aprendizagem Diagnosticados como Dislexia”, de autoria do vereador Gildo Gardinalli (PR), foi aprovado por unanimidade na 58ª sessão ordinária da Câmara Municipal de Santo Antonio de Posse, transformado na Lei nº 2.659.



Projeto de autoria do vereador Gildo Gardinalli foi aprovado por unanimidade

Estima-se que, no Brasil, cerca de 15 milhões de pessoas têm algum tipo de necessidade especial. As necessidades especiais podem ser de diversos tipos: mental, auditiva, visual, físico, conduta ou deficiências múltiplas. Deste universo, acredita-se que, pelo menos, noventa por cento das crianças na educação básica sofram com algum tipo de dificuldade de aprendizagem relacionada à linguagem: dislexia, disgrafia e disortografia. Entre elas, a dislexia é a de maior incidência e merece toda atenção por parte dos gestores de política educacional.

A dislexia é a incapacidade parcial de a criança ler compreendendo o que se lê, apesar da inteligência normal, audição ou visão normais e de serem oriundas de lares adequados, isto é, que não passem privação de ordem doméstica ou cultural. Encontramos disléxicos em famílias ricas e pobres.

O vereador Gildo Gardinali esclarece: “Eu elaborei este projeto porque algumas pessoas me procuraram, falando a respeito do problema da dislexia, comecei a estudar a dislexia, e diante do fato desse distúrbio neurológico ser confundido com vários outros e que às vezes é tratado de forma inadequada, muitas vezes até com tratamentos com medicamentos neurológicos. Senti a necessidade de elaborar este projeto para que seja realmente feito um diagnóstico certeiro e a criança seja encaminhada para um tratamento ou atendimento correto. A partir do momento que se descobre que a criança tem dislexia, o tratamento se torna mais fácil, mais acessível, sem drogas, com tratamento psicopedagógico, facilitando assim a vida da criança e seu aprendizado. A dislexia é muito confundida, aqui no Brasil, com outros distúrbios, e muitas vezes as crianças são tratadas incorretamente”.

Como é o caso de Gustavo, filho da possense Jocimara Lolli, que reside em Hortolândia. “Eu sempre achei que meu filho tinha um pouco de dificuldade no aprendizado, percebi que ele era diferente, foi mais lento para falar e também para andar. Assim que começou a ser alfabetizado, com 7 anos, a professora percebeu que ele tinha dificuldade em acompanhar as outras crianças, ele ficava nervoso porque não conseguia aprender. A professora insistiu muito comigo que devíamos investigar se ele realmente tinha algum problema ou era só preguiça mesmo. Eu o levei a um neurologista e o médico diagnosticou a dislexia. A partir daí foi desenvolvido um novo trabalho com ele na escola, com acompanhamento diferenciado, com jogos estimulantes. E ele vai ter que ter sempre um acompanhamento diferenciado, mas vai poder se desenvolver como qualquer outra criança”, nos conta Jocimara.

Uma criança com dislexia não é portadora de deficiência nem mental, física, auditiva, visual ou múltipla. O disléxico não é uma criança de alto risco. Uma criança não é disléxica porque teve seu desenvolvimento comprometido em decorrência de fatores como gestação inadequada ou alimentação imprópria. Ser disléxico é condição humana. O disléxico pode, sim, ser um portador de alta habilidade. Daí, em geral, os disléxicos serem talentosos na arte, música, teatro, deportes, mecânica, vendas, comércio, desenho, construção e engenharia. Não se descarta ainda que venha a ser um superdotado, com uma capacidade intelectual singular, criativo, produtivo e líder. O disléxico pode, também, ser um portador de conduta típica, com síndrome e quadro de ordem psicológica, neurológica e lingüística, de modo que sua síndrome compromete a aprendizagem eficaz e eficiente de leitura e escrita, mas não chega a comprometer seus ideais, ideias, talentos e sonhos. Por isso, diagnosticar, avaliar e tratar a dislexia, conhecer seu tipo, sua natureza, é um dever do Estado e da Sociedade e um direito de todas as famílias com crianças disléxicas em idade escolar.

O “Programa de Apoio ao Aluno Portador de Distúrbios Específicos de Aprendizagem Diagnosticados como Dislexia” terá como objetivo diagnosticar, acompanhar e orientar os estudantes que sejam portadores do distúrbio e seus familiares, instituindo estratégias diferenciadas que os professores deverão adotar, voltadas especificamente aos estudantes disléxicos, cabendo às Secretarias Municipais de Saúde, de Educação e Diretoria de Promoção Social a formulação de diretrizes para viabilizar sua plena execução, criando equipes multidisciplinares com profissionais necessários à perfeita execução do trabalho de diagnóstico, acompanhamento e orientação dos alunos e seus familiares, além da capacitação permanente dos educadores; sejam da rede pública municipal ou instituições particulares de ensino, para que tenham condições de identificar os sinais da dislexia nos alunos e prestar auxílio em seu tratamento.

“Este projeto de lei vem de encontro com o problema enfrentado por muitas famílias e professores que poderá ser resolvido se houver empenho por parte dos profissionais da educação, da saúde e da promoção social para que haja trabalho em conjunto no enfrentamento desse problema”, finaliza o vereador Gildo.

Fonte:http://portal.oregional.net/?p=19701